Sobre as três mortes

Neo
1 min readDec 4, 2023

A primeira e pior morte é aquela que, normalmente, se confunde com a vida: a morte intranquila duma vida rebaixada, que mais se assemelha à morte. Prudentes os que, mortos entre os mortos, esperam pouco dos outros e das coisas; quebrar a cara? Coisa de idiota. Não se decepciona quem jamais viveria, quem trocou a vida pela hiperatividade inercial. A segunda morte, também muito ruim, é a da depressão. O preço da pseudotranquilidade é a hipoatividade, e seu consequente isolamento; a marcha lenta, artificialmente imposta pelo cérebro, pode até lembrar a vida, mas o peso dos dias sustenta o diagnóstico — doente, a ser recuperado ou descartado. A última morte é a morte de fato, biológica e existencial, “escolhida” ou não; tranquilidade, enfim, sem um sujeito pra gozar dela. Haveria um quarto caminho? Não sei, improvável. Viver nesta sociedade, nesta época, implica oscilar entre a morte precavida e agitada dos imbecis e a morte apática e melancólica dos deprimidos. Ainda assim, parte de mim se recusa a morrer. Talvez, suportar as duas primeiras e, de tempos em tempos, viver um pouquinho; aceitar a morte sem nunca morrer. Escrever, escapar, tornar e, de novo e de novo, recomeçar. Um sopro de vida no inferno.

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Neo

Fantasma entre mortos, vivo[?] entre autômatos