Não adianta trazer dados, mais do que necessários, se a interpretação fica restrita a limites muitíssimo estreitos. No modo de produção capitalista, a desoneração da folha de pagamento pode até ter levado, aqui e ali, a um pequeno aumento dos salários — às custas de uma boa aposentadoria, é verdade, como no Chile — , mas por que é que o trabalhador tem de escolher entre se aposentar ou ganhar um pouco mais? Por que somos obrigados a sacrificar o futuro por migalhas no presente? Ainda que a competição possa ser, eventualmente, motor de “inovação”, vale a pena passar a vida num — eterno e infernalmente constante! — estado de acossamento mútuo? Mesmo essa afirmação é bastante questionável… Verdadeiro cético não é quem se baseia em dados frios pra trucar seus opositores com uma pretensa realidade, mas aquele que, inserido nesta realidade específica, reconhece sua arbitrariedade e nos provoca a ir além; não há nada de imutável nas condições que nos cercam — basta pular.
