Sinto falta do tempo. Do meu, mesmo. Antes, abri mão da energia pra ter tempo. Com a volta da energia, o tempo se foi. Tempo e energia juntos? Isso não existe. A depressão liberava meu tempo, mas me condenava ao quarto; a energia me tirou do quarto, mas me condenou ao escritório; este, por fim, rouba-me todo o tempo. Não todo, “só oito horas”. Pelo menos oito horas… Mais oito pra dormir, quando possível; mais o tempo de acordar, tomar café, preparar o almoço, me deslocar, almoçar, voltar, preparar a janta, jantar, parar por alguns segundos, quem sabe minutos. Lá se foi o dia, junto do tempo. São “só cinco dias”! Pelo menos… Mais os feriados, um ou outro fim de semana, horas extras, emergências. Férias? Luxo do passado. Nos momentos “livres”, o segundo trabalho: consumo. Os freelas também. A música que disfarça, ajuda a tankar. Escravo? Da necessidade ou do sistema.
